Segurança
Crimes cibernéticos: por meio de streaming e set-top boxes
Um dos crimes cibernéticos mais comuns no mundo é o furto de dados privados – e o Brasil está entre os países onde há mais ocorrências dessa atividade criminosa. Cerca de 30% dos casos de “phishing”, que são as ações de furto de dados pessoais, ocorrem no Brasil. Entre os meios usados pelos bandidos estão sites ilegais de streaming, serviços piratas de IPTV e aparelhos decodificadores piratas, que facilitam muito a captação de dados dos usuários.
A promessa de serviços com muitos canais e baixo custo tem levado alguns consumidores a apelar para esses produtos ilegais. Infelizmente, eles escondem riscos muito sérios para o usuário e seus equipamentos.
No final de outubro deste ano, a empresa de segurança digital Kaspersky promoveu em São Paulo o evento Kaspersky Cybersecurity Summit 2019 LIVE. O seminário abordou várias questões importantes sobre segurança na internet e crimes cibernéticos. De acordo com reportagem do site Crypto ID, o phishing foi o principal assunto do evento. Segundo Fabio Assolini, diretor de pesquisas da empresa, o Brasil lidera todos os rankings de phishing há vários anos, e este ano não deve ser diferente. O golpe é o mais usado porque não exige muitos conhecimentos técnicos por parte dos criminosos, e o custo é muito baixo.
Assolini disse que os criminosos dependem de uma ação do usuário para ter sucesso. Um site duvidoso pedindo cliques ou um aparelho irregular comprado sem certificação facilitam muito o trabalho dos bandidos. Basta que o consumidor clique em um site irregular ou instale um decodificador pirata para estar exposto ao furto de dados pessoais.
De acordo com reportagem do Jornal do Comércio, o Brasil já ocupa o quarto lugar mundial em número de usuários da internet, segundo dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento. O grande volume de usuários sem muita instrução a respeito de segurança e privacidade fez disparar os casos de crimes cibernéticos no país. De acordo com dados da ONU, desde 2016 o Brasil vive um aumento acentuado nos casos de crimes cibernéticos, com destaque para o roubo de dados financeiros por hackers.
São quase 400 crimes cibernéticos registrados no Brasil todos os dias. De acordo com dados da associação SaferNet Brasil, em parceria com o Ministério Público Federal, em 2018 foram contabilizadas 133.732 queixas de delitos virtuais, como pornografia infantil, conteúdos de apologia, incitação à violência, crimes contra a vida e violência contra mulheres ou misoginia. É um salto de 110% em comparação com o levantamento de 2017, quando a SaferNet registrou 63.698 denúncias.
Uma reportagem do site Consumidor Moderno diz que a empresa de segurança digital Avast também monitora um grande crescimento no número de crimes cibernéticos no Brasil. Os golpes de phishing e DNS (esquema que imita sites legítimos para enganar os usuários) são os mais comuns no país. Os criminosos modificam detalhes do endereço legítimo para enganar o internauta, e assim podem furtar dados privados, especialmente informações bancárias e de cartões de crédito.
Os consumidores devem redobrar sua atenção ao acessar sites de conteúdo audiovisual que parecem legítimos. É preciso conferir cuidadosamente os endereços na web, para impedir que a busca não leve a um site falso operado por criminosos.
Tanto a Kaspersky como a Avast alertam para nunca confiar em sites ou plataformas irregulares de streaming, porque seu uso pode levar a sérios prejuízos financeiros. E a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) avisa há muito tempo que decodificadores sem a certificação da agência podem ser usados por criminosos para o furto de dados privados.
Antipirataria
ABTA reforça núcleo de combate à pirataria com a entrada da Watch e da Randy Labs
A Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA) anunciou a integração da Watch e da Randy Labs ao seu Núcleo de Combate à Pirataria. A iniciativa visa fortalecer a identificação e denúncia de provedores e plataformas envolvidos na distribuição ilegal de conteúdo audiovisual no país, um mercado que, segundo estudos da própria associação, provoca perdas anuais superiores a R$ 15 bilhões.
Fonte: Tela Viva / Imagem: Canva
A Watch, um aplicativo de streaming para provedores de internet, contribuirá com sua experiência em inteligência digital e análise de dados para rastrear atividades ilícitas. “O avanço da pirataria representa uma ameaça real à sustentabilidade do ecossistema audiovisual, comprometendo investimentos, empregos e a segurança digital dos consumidores”, afirmou Maurício Almeida, fundador da Watch e líder do Conselho Antipirataria da Abotts. Ele complementa que “essa parceria com a ABTA reforça a importância da cooperação entre o setor privado e as entidades reguladoras para desmantelar redes ilegais de distribuição de conteúdo e fortalecer a confiança no mercado”.
A outra nova integrante é a empresa portuguesa Randy Labs, especializada em inteligência artificial aplicada à proteção de direitos digitais. A companhia desenvolveu a plataforma DRE – Digital Rights Enforcement, que detecta, valida e aciona medidas automáticas contra a pirataria em tempo real e é utilizada em mais de 20 países. “Hoje, conteúdos audiovisuais são copiados e retransmitidos online em questão de minutos. O desafio não é apenas detectar, mas reagir com precisão e velocidade. É isso que a nossa tecnologia faz”, explicou Carlos Martins, CEO da Randy Labs.
O problema da pirataria atinge uma parcela significativa da população conectada no Brasil, onde quatro em cada dez internautas consomem vídeos piratas. Para o presidente da ABTA, Oscar Simões, a união de forças é um passo fundamental. “Combater a pirataria é proteger o consumidor, o investimento e a inovação. Essa união entre ABTA, Watch e Randy Labs demonstra maturidade e comprometimento de todos os stakeholders do setor em enfrentar o problema de forma estruturada, com base em evidências e colaboração institucional”, destacou.
O Núcleo de Combate à Pirataria da ABTA atua em parceria com órgãos públicos como a Ancine, a Anatel, o Ministério da Justiça, o Ministério Público, o Procon e a Receita Federal.
A ABTA representa as principais empresas do setor de TV por assinatura no Brasil, com a missão de defender os interesses da indústria e liderar iniciativas contra a pirataria audiovisual. Lançada em 2018, a Watch funciona como um hub de conteúdo para provedores de internet, oferecendo acesso a produções de estúdios como Globo, MAX e ESPN para milhares de ISPs no país. A Randy Labs, por sua vez, é uma empresa portuguesa que fornece soluções de inteligência artificial para proteção de conteúdos digitais, atendendo emissoras, ligas esportivas e reguladores globalmente.
Imprensa
Por que esquema na Argentina fez gatonet cair para milhares de brasileiros
A Argentina teve papel central no esquema de gatonet ao abrigar o núcleo de marketing e vendas de uma rede internacional de pirataria que tinha o Brasil como principal destino. Gatonet é o nome popular para plataformas que transmitem canais e conteúdos de streaming de forma ilegal.
Fonte: Uol Imagem: Marcella Duarte
O que aconteceu
Operação na Argentina derrubou serviços de gatonet usados por milhares de brasileiros. A queda no serviço começou neste fim de semana e, embora não haja números oficiais de afetados, centenas de reclamações surgiram em redes sociais e fóruns
Investigação, que corre sob segredo de Justiça, identificou um centro de comando da pirataria em Buenos Aires. Esse escritório argentino era responsável pelo marketing e pelas vendas dos serviços ilegais para o mundo inteiro. Já a administração, finanças e área de TI do esquema ficavam na China.
Argentina foi escolhida como hub por alta capacidade técnica a preços não tão caros. Segundo Jorge Bacaloni, presidente da Alianza (associação da indústria audiovisual que combate a pirataria na América Latina), essas foram as razões para que local abrigue a operação. País concentrava marketing e vendas, enquanto a administração, finanças e TI ficam na China.
Apesar de o esquema operar globalmente, o principal mercado era o Brasil, com 4,6 milhões dos 6,2 milhões de assinantes. A estimativa é de que o grupo movimentasse entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões (R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão) por ano com venda de assinaturas clandestinas.
A ação desativou dezenas de plataformas piratas usadas em TV boxes não homologadas pela Anatel. O Ministério Público da Argentina agiu com apoio da Alianza, associação que representa a indústria audiovisual na América Latina. Entre os principais serviços atingidos estão:
Funcionavam como “Netflix piratas”: My Family Cinema e Eppi Cinema
Liberavam centenas de canais de TV pagos ilegalmente: TV Express;
Outros serviços afetados: Weiv TV, Cinefly, Red Play, Duna TV, Boto TV, Break TV, VTV, Blue TV, Super TV Premium, HOT, ONpix, PLUSTV, Mix, Venga TV, ALA TV, Pulse TV, Football Zone, Nossa TV, MegaTV+, Cineduo, Megamax+, GTV, Nebuplus e Onda TV.
Usuários de serviços como o My Family Cinema passaram a ver uma mensagem de encerramento: “Devido a questões de direitos autorais, esta marca deve encerrar permanentemente seus serviços. Agradecemos sinceramente pela sua confiança e apoio ao longo dos anos”. Reclamações também se multiplicaram no ReclameAqui, com relatos de clientes que pagaram planos anuais e ficaram sem acesso “de um dia para o outro”.
Como funciona o esquema de pirataria
TV boxes piratas usam versões modificadas do sistema Android e instalam apps ilegais que oferecem acesso a conteúdo de streaming e TV paga.
O pagamento é feito por planos mensais, semestrais ou anuais, o que leva muitos consumidores a acreditar que se trata de um serviço legal.
Por não serem homologados pela Anatel, esses aparelhos não passam pelos testes de segurança exigidos para comercialização.
Mesmo após bloqueios, as organizações costumam atualizar os servidores e restabelecer o acesso rapidamente, o que dificulta o combate ao “gatonet”.
