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Regulação

Indústria de TV por assinatura: o cerco contra a pirataria se fecha

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Na indústria de TV por assinatura, um dos maiores problemas é a pirataria dos canais pagos. Anualmente, a indústria global de TV por assinatura perde ou deixa de ganhar bilhões de dólares com a pirataria de sinais. As empresas buscam meios para combater essa atividade criminosa, em colaboração com os órgãos fiscalizadores dos governos.

Segundo um estudo recente da firma Parks Associates (“360 Deep Dive: Account Sharing and Digital Piracy”), cerca de 20% das residências com conexões de internet de banda larga nos EUA usam algum tipo de aparelho, aplicativo ou site para piratear canais da indústria de TV por assinatura. Essa atividade ilegal representa um prejuízo que deve chegar a US$ 9,1 bilhões em 2019 e US$ 12,5 bilhões até 2024, um crescimento de 38% em cinco anos. Em média, a pirataria de TV por assinatura tem prejuízo de quase US$ 30 bilhões no mundo. A pirataria não afeta apenas as operadoras de TV a cabo e satélite, como serviços OTT como Netflix, Spotify e Amazon Prime Video.

Segundo Brett Sappington, diretor de pesquisas da Parks Associates, a pirataria de TV é uma questão complexa que não pode ser resolvida por meio de medidas simples. Para o executivo, a maioria dos usuários nos EUA que usam serviços piratas também são assinantes de algum serviço legal. Segundo ele, esses consumidores não são meros ladrões que buscam burlar a lei, mas fãs de filmes e séries que assinam uma grande variedade de serviços.

Ocorre um grande paradoxo na indústria de TV por assinatura: as empresas investem cada vez mais em produções de alto nível, e realizam grandes campanhas de marketing para divulgar suas séries e filmes. Os consumidores ficam muito interessados, e buscam meios fáceis de acesso a essas produções, mesmo que por vias ilegais. O mesmo ocorre com grandes eventos esportivos, que atraem fãs do mundo inteiro.

Os Estados Unidos dispõem de leis e normas específicas para coibir o furto de canais e conteúdos com direitos autorais. As empresas podem acionar as agências governamentais que regulamentam o setor e até mesmo o FBI para impedir as atividades criminosas. Os agentes policiais podem notificar empresas, fabricantes, provedores de acesso e até mesmo consumidores a respeito dessas atividades, e o sistema legal pode aplicar sanções que vão de pesadas multas a penas de prisão.

Nos países da União Europeia, as normas são bastantes estritas para coibir essa atividade ilegal. Com ações orquestradas em vários países, o acesso ilegal aos canais e programas de TV tem caído significativamente nos últimos anos.

A grande oferta de serviços legais de TV paga e OTT têm papel fundamental nesse declínio da pirataria no continente europeu. As empresas oferecem pacotes variados e acessíveis, o que desestimula o consumidor a buscar serviços de acesso ilegal. Segundo uma avaliação da firma Ipsos, a indústria de TV por assinatura cresceu 8,4% em 2018, em comparação com o ano anterior, atingindo uma base de cerca de 230 milhões de assinantes. Os serviços de IPTV ganharam mais de 13 milhões de assinantes no período, e os serviços de OTT registraram aumento de 6,5 milhões de novos assinantes europeus. Os serviços tradicionais de cabo e satélite tiveram queda, porque os consumidores estão migrando para os serviços puramente digitais. Segundo a pesquisa da Ipsos, a pirataria de TV caiu em média 8% nos países da União Europeia.

Uma grande dor de cabeça para as empresas do setor são as “Android boxes”, receptores de TV que funcionam no sistema operacional Android. São equipamentos de custo relativamente baixo e podem ser usados tanto em computadores como em aparelhos de TV. As empresas ilegais que operam esses serviços oferecem pacotes fechados em torno de US$ 100 em um único pagamento, com acesso ilimitado a uma grande variedade de canais e eventos esportivos.

O uso desses aparelhos está mais disseminado nos países do continente americano. Nos Estados Unidos e no Canadá, as operadoras legítimas trabalham diretamente com as autoridades para processar os vendedores desse tipo de receptor de TV digital.

Essa “caixa preta” também prejudica as empresas da indústria de TV por assinatura na América Latina. Os receptores Android são muito procurados nos países da região, com empresas prometendo acesso a canais de TV e serviços como Netflix por uma fração do preço oficial. Esses aparelhos são anunciados livremente até nas redes sociais como Facebook e Instagram.

Em muitas metrópoles da América Latina, esses aparelhos podem ser comprados nas ruas, em quiosques ou de vendedores ambulantes. Estima-se que o mercado legal de streaming na América Latina deve saltar de US$ 2 bilhões para US$ 6 bilhões ao ano nos próximos cinco anos.

As associações das empresas da indústria de TV por assinatura avaliam que existam pelo menos 2 milhões desses aparelhos somente no Brasil. Segundo Ygor Valerio, vice-presidente e advogado de proteção de conteúdo da Motion Picture Association of America, o consumo ilegal de televisão por meio desses equipamentos disparou na região. E de acordo com o Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade, as perdas para as empresas brasileiras de TV paga decorrentes da pirataria superaram US$ 1,2 bilhão em 2017.

As empresas e autoridades latino-americanas reconhecem que o problema é de difícil solução. Em vários países, os governos demoraram muito para criar normas efetivas para regulamentar e coibir as atividades ilegais. Os piratas de TV e OTT são muito ágeis e em vários casos operam a partir de outros países, onde as leis locais não têm efeito. Calcula-se que 90% dos sinais pirateados de TV no Brasil vem de locais distantes na Europa Oriental e na Ásia. A polícia e as autoridades brasileiras estão trabalhando em conjunto no país todo para remover redes de transmissores ilegais e promover apreensões de equipamentos, especialmente em locais que concentram atividades de contrabando, como Ciudad del Este, na fronteira do Paraguai com o Brasil.

O blog “Sou Legal” foi criado para informar e discutir os riscos e impactos do acesso ilegal aos canais de TV por assinatura.

Antipirataria

Anatel e Ancine firmam acordo para combater pirataria de conteúdos audiovisuais

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A Ancine determinará o bloqueio de sites e aplicativos que distribuam conteúdo clandestinamente; a Anatel, por sua vez, ficará responsável por assegurar que as prestadoras de telecomunicações impeçam o acesso dos clientes ao conteúdo pirata

Fonte: Ministério das Comunicações / Imagem: Ministério das Comunicações

Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e a Agência Nacional do Cinema (Ancine) assinaram, nesta quinta-feira (15/5), um novo Acordo de Cooperação Técnica com o objetivo de intensificar o combate à pirataria de filmes, séries, eventos esportivos e outros conteúdos audiovisuais no ambiente digital.

O acordo consolida a competência da Ancine na proteção de conteúdos audiovisuais, conforme previsto na Lei nº 14.815, de 15 de janeiro de 2024, e fortalece a atuação conjunta com a Anatel, responsável pela regulação dos serviços de telecomunicações, incluindo a banda larga e o Serviço de Acesso Condicionado (SeAC), que abrange a TV por assinatura.

A Ancine determinará, dentro de sua atribuição legal, o bloqueio de sites e aplicativos que distribuam conteúdo pirata. A Anatel, por sua vez, ficará responsável por coordenar os mais de 20 mil prestadores de serviços de banda larga para garantir que o bloqueio desse conteúdo clandestino seja efetivado de forma ampla, eficiente e célere.

Desde fevereiro de 2023, a Anatel já atua no combate à pirataria por meio do Plano de Combate ao Uso de Decodificadores Clandestinos do SeAC. A agência foca especialmente nos riscos associados aos chamados TV boxes ilegais, que, além de fornecerem acesso a conteúdo pirata, podem conter software malicioso, representar ameaça à privacidade dos usuários e funcionar como vetores para ataques cibernéticos.

O presidente da Anatel, Carlos Baigorri, acredita que o acordo é um marco histórico para as duas agências e contribuirá para promover a justa concorrência e a justa remuneração de toda uma indústria que é extremamente importante e transformadora para o Brasil. “É fundamental que nós, enquanto agentes do Estado brasileiro, possamos combater o uso indevido e a distribuição indevida de obras protegidas por direitos autorais”, afirmou.

“O Acordo de Cooperação com a Ancine, além de viabilizar o combate à pirataria de conteúdo audiovisual, ampliará o alcance dos esforços da Anatel para remover os TV boxes dos lares de milhões de brasileiros que, de forma incauta, desconhecem o risco que esses aparelhos trazem para os usuários, para as redes de telecomunicações e para a infraestrutura cibernética do país e do mundo”, afirmou o conselheiro da Anatel, Alexandre Freire, responsável pelo tema no âmbito da Agência.

O diretor-presidente da Ancine, Alex Braga Muniz, disse que a pirataria de conteúdos prejudica a indústria audiovisual do Brasil ao afetar financeiramente os produtores, com impacto na geração de empregos e renda. “Recentemente, o filme Ainda Estou Aqui foi responsável por atrair aos cinemas um grande público, especialmente de pessoas mais jovens. Ao mesmo tempo, o filme vinha sendo distribuído clandestinamente por plataformas”, exemplificou.

A superintendente de Fiscalização da Anatel, Gesiléa Fonseca Teles, lembrou que a atuação da Agência, entre outubro de 2018 e maio de 2025, resultou  na apreensão de 1,5 milhão de aparelhos receptores de conteúdo não homologados (TV boxes), avaliados em R$ 353,2 milhões. Desde a inauguração do Laboratório Antipirataria da Anatel, em setembro de 2023, foram bloqueados 24.700 IPs e 4.428 domínios na internet, usados para levar de forma irregular conteúdo às TV boxes não homologadas.O laboratório é resultado de uma parceria entre Anatel e Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA).

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Antipirataria

Estratégia de combate às TV Boxes piratas vira missão permanente na Anatel

Um ano após iniciar o “Plano de Ação de Combate à TV Box Pirata”, já é possível afirmar com segurança que essa deixou de ser uma atividade pontual e experimental da Anatel. A iniciativa, que começou sem muita certeza sobre os resultados que seriam alcançados, criou raízes na agência, se tornou referência internacional, ganhou prêmios, estrutura, plano de ampliação e, sobretudo, tornou-se uma rotina permanente na fiscalização da agência de telecomunicações.

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Imagens: de Alexa por Pixabay, yousafbhutta por Pixabay
Imagens: de Alexa por Pixabay, yousafbhutta por Pixabay

Um ano após iniciar o “Plano de Ação de Combate à TV Box Pirata”, já é possível afirmar com segurança que essa deixou de ser uma atividade pontual e experimental da Anatel. A iniciativa, que começou sem muita certeza sobre os resultados que seriam alcançados, criou raízes na agência, se tornou referência internacional, ganhou prêmios, estrutura, plano de ampliação e, sobretudo, tornou-se uma rotina permanente na fiscalização da agência de telecomunicações.

Entre as medidas de ampliação da estratégia que estão em curso estão a ampliação da equipe dedicada ao laboratório e às ações de fiscalização, a automatização das ordens de bloqueio para os provedores de Internet e provedores de cabos submarinos (que passarão a receber o comando em tempo real, assim que os endereços forem identificados pela agência) e a efetivação do acordo com a Ancine, que permitirá o bloqueio não apenas das TV Boxes mas também de sites e aplicativos de distribuição de conteúdos piratas.

Segundo Marcelo Alves, superintendente de fiscalização da Anatel, já é possível dizer que o plano é hoje parte das atividades da agência pelos resultados alcançados. “Nosso objetivo nunca foi acabar com 100% das caixas piratas, porque sempre surgirão novos fabricantes e tecnologias. Mas o nosso objetivo é fazer com que o serviço pirata fique tão ruim e instável que as pessoas não se sintam motivadas a comprar”, diz o superintendente.

Trabalho permanente, mas será automatizado

Para o conselheiro da Anatel Artur Coimbra, que responde no conselho da Anatel pela  estratégia de combate à pirataria, ressalta o trabalho permanente que precisa ser desempenhado. “Não é uma ação pontual, é um acompanhamento constante das plataformas de distribuição desses sinais piratas. Isso só foi possível com o laboratório que a Anatel montou e com a qualificação da equipe”, diz o conselheiro.

Em termos numéricos, a Anatel ampliou progressivamente o tamanho da operação e hoje monitora cerca de 5 mil endereços IPs, mantém cerca de 1 mil permanentemente bloqueados por estarem diretamente ligados às atividades ilegais, tem uma lista negra de 240 endereços de DNS e monitora dezenas de modelos de aparelhos. Mas o número deve crescer muito.

Hoje, o processo de identificação dos IPs utilizados para distribuir os códigos de habilitação das caixas e distribuição dos conteúdos é feito permanentemente, mas existe um cuidado de decidir o que vai ser bloqueado, para evitar afetar serviços legítimos que possam estar compartilhando os mesmos endereços. Outro processo trabalhoso é o de executar os comandos para que os diferentes ISPs e provedores de infraestrutura de cabos submarinos recebam as ordens de bloqueio. Como existem mais de 20 mil provedores credenciados na Anatel, esse comando é executado apenas pelos maiores, que representam hoje cerca de 65% do mercado, chegando a 80% nos plantões. Com a automatização dessas ordens de bloqueio, a Anatel quer chegar instantaneamente à maior parte dos provedores. O sistema que permitirá esses comandos será o mesmo a ser utilizado para o cumprimento das ordens judiciais, sobretudo no período das Eleições 2024.

“O resultado a gente mede pelas redes sociais, nas redes de revenda e nos influenciadores. É nítido que o serviço de TV Box pirata se tornou inseguro para quem compra o equipamento, tanto que muitos provedores clandestinos agora estão tentando vender assinatura”, diz Alvez.

Criar um desestímulo

Para Artur Coimbra,o objetivo da Anatel é criar um desestímulo. “O usuário de uma TV Box nunca vai ter certeza até quando o serviço vai funcionar. Pode até ficar ativo um tempo no começo, mas uma hora ele vai cair”, diz o conselheiro.

A Anatel não monitora o conteúdo que está sendo trafegado porque, mesmo que seja um conteúdo ilegal, o Marco Civil da Internet estabelece que nem agência nem as operadoras teriam essa prerrogativa. Mas a agência não esconde que dá preferência em disparar as operações de bloqueio durante eventos de maior audiência (jogos de futebol, realities etc). “A nossa preocupação é com a vulnerabilidade da rede criada por equipamentos não homologados e com a prestação do Serviço de Acesso Condicionado (nome técnico para TV por assinatura) sem outorga. Quem tem a responsabilidade legal de olhar se o conteúdo está sendo pirateado é a Ancine, e o nosso acordo de cooperação prevê que eles podem usar a nossa estrutura se quiserem”, diz Coimbra.

A experiência da Anatel é considerada tão exitosa que tem sido observada por outros reguladores a partir das publicações técnicas feitas pela agência nos repositórios internacionais de boas práticas regulatórias. Hoje, vários países já buscam o Brasil atrás de informações sobre o modelo de combate à pirataria que possam ser replicados em outros mercados.

Marketplaces e Siscomex

Mas dentro do plano de combate à pirataria, ainda há dois aspectos que a agência vê necessidade de melhorias. O primeiro é a falta de cooperação com os marketplaces digitais. “Já estamos há um bom tempo pedindo para eles, por meio de ofícios, que colaborem com a Anatel, reiterando que a venda de equipamentos não homologados é crime. Mas sempre há uma resistência, uma complicação alegada para que os equipamentos não sejam vendidos. Já chegamos ao limite”, diz Marcelo Alves, apontando que a partir de agora a tendência é que a Anatel passe a sancionar e multar cada vez mais esses marketplaces, além de novas medidas que estão em estudos.

O outro ponto em que a Anatel vê espaço para melhorias é no processo de busca e apreensão de equipamentos clandestinos que chegam pelas vias regulares de importação. Hoje, a agência não é parte do Siscomex (Sistema de Comércio Exterior), o que significa que a agência não é alertada quando existe alguma importação de equipamentos que estejam sob a sua alçada. Assim, as operações de busca e apreensão só acontecem quando a fiscalização da Anatel vai à campo aleatoriamente ou acaba sendo chamada pelas autoridades alfandegárias. “Já pedimos desde o começo do ano para ingressar no Siscomex para podermos ter o acesso automatizado às importações que mereçam fiscalização nossa”, diz Coimbra. “Parece que teremos uma resposta positiva, o que vai ajudar muito o nosso trabalho de fiscalização das importações legais e combate ao mercado de equipamentos não homologados”.

 

Matéria : Tela Viva

Imagens:  de Alexa por Pixabay, yousafbhutta por Pixabay

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